Ah se meus pés falassem,
agradeceria cada bolha, cada calo e cada esparadrapo grudado. Riria comigo das
vezes que ele por cansaço não obedeceu me levando ao chão e que por muitas
vezes por força me levou a grandes saltos.
Fez de mim uma bailarina que por muitos anos dedicou a vida e abdicou de
uma infância comum pra ser feliz dançando.
Quantas e quantas vezes não andei
de patins nem de carinho de rolimã por que o festival se aproximava e lesionar
seria um erro, esfolar então, uma catástrofe.
Aprendi desde os quatro anos que dançar
era mais do que gostar das músicas clássicas que ouvia e ficar quase japa com os
cabelos todo puxado para os coques impecáveis. Era disciplina, era treinar, era
ser chata com contagem de tempo e ainda assim colocar as coleguinhas no lugar
(sim sou antipática e detalhista desde criança). Aprendi novinha com uma
professora carinhosa. Depois de anos, depois
de muitos professores extremamente qualificados e dedicados, larguei tudo!
Ser bailarina é estado de
espírito, é pensar em passos quando anda, quando toma banho e principalmente
quando houve uma boa música tocando. Ser
bailarina é fazer cara de tudo bem quando o sapato aperta e o corpo boicota. É graciosidade
acima de qualquer “sobrepeso” é acima de
tudo ser feliz por dançar.
Depois de cinco anos quase sem
dançar o corpo enferruja, o pé, os joelhos doem, mas a alma sempre vai ser de
bailarina. A vontade virou prática em Londrina reascendeu o foguinho de tentar
mais uma vez. Bom retorno alegria no
coração e pessoas fazendo parte dessa alegria.
Enfim, uma coisa eu digo, se
morrer posso não usar o Tutu (pronuncia-se "titi" ou too-too),
e sapatilhas, mas terei comigo a alma e o coração de bailarina.